Segundo a idealizadora do FoodTech Movement, a comida como ela existe hoje talvez não vá existir nos próximos anos

12ª edição do projeto O Futuro da Alimentação com Ana Carolina Bajarunas, CEO da Builders e idealizadora do FoodTech Movement

Ana Carolina Bajarunas, CEO da Builders e idealizadora do FoodTech Movement, participou na útlima terça-feira (25/08) de mais uma edição da série “O Futuro da Alimentação”, projeto criado pelo CEO da Boali, Rodrigo Barros. Durante o bate-papo, a executiva que hoje mora na Dinamarca, falou sobre as oportunidades de inovação e os desafios para implementação de tecnologia no mercado de alimentos.

A Builders é uma consultoria focada no fomento da inovação, tecnologia e desenvolvimento de startups do mercado de alimentação. Já o FoodTech Movement, criado em 2017 e lançado no ano seguinte com 53 empresas, busca analisar as mudanças no perfil de consumo do mercado de alimentação, identificar oportunidades e mapear desafios dentro deste segmento. Atualmente o movimento conta com mais de 300 startups mapeadas no Brasil.

Ana Carolina contou que temas relacionados à alimentação são muito discutidos fora do Brasil e isso coloca o país em um atraso considerável em relação a outros mercados, como o americano, europeu e israelense, principalmente quando essas discussões envolvem questões como tecnologia e manipulação de alimentos. Por isso movimentos [como o FoodTech Movement, por exemplo] são tão importantes para aproveitar a genética empreendedora do brasileiro, as oportunidades e transformar os processos, para produzir melhor, de forma mais sustentável e rentável.

A especialista em mercado de alimentos e bebidas disse que o movimento das startups ganhou vida no mundo nos últimos dez anos, mas no Brasil ele só se intensificou de três anos para cá. Segundo ela, quando se falava em foodtech, em meados de 2017, o tema parecia uma realidade muito distante, mas empresas globais com visão mais avançada e espírito de ecossistema começaram a se movimentar e a se abrir mais no Brasil. “Elas perderam o medo do open innovation e da inovação colaborativa. A mentalidade, não só dos empreendedores brasileiros como das grandes empresas, vem se modificando de forma muito rápida” e completou afirmando que “no mundo do empreendedorismo a nossa maior dificuldade não é o investimento, mas sim como lidar com a mentalidade de grandes empresas que ainda estão pensando de forma antiga.”

A conversa contou com alguns temas que destacamos a seguir:

Proteína cultivada em laboratório

A CEO da Builders contou que as carnes de laboratório não estão sendo comercializadas ainda, mas existe uma promessa de que esse tipo de produto chegue às gondolas até 2021. Já as proteínas feitas a base de planta ou as alternativas, Ana Carolina disse que tem notado uma aceitação muito grande, principalmente depois do impacto da pandemia.

Ela explicou que as pessoas que já estavam preocupadas com questões como saúde, traceability (saber de onde vem o produto que eu consumo), impacto no meio ambiente cresceu absurdamente com números ultrapassando 250% o aumento nas vendas em uma semana de algumas proteínas alternativas entre abril e maio, comportamento que reflete um momento de ouro para esse tipo de produto. Segundo a especialista, há cerca de seis anos não havia o sortimento oferecido hoje em dia, assim como texturas, sabor, aparência e até valor nutricional.

Mesmo com todo esse cenário favorável o consumidor não busca parar de comer carne. Na América Latina, por exemplo, as pessoas estão mais interessadas em reduzir o consumo, são os chamados flexitarianos, grupo formado por um público que come carne, mas evita grandes quantidades, um nicho de mercado que as empresas estão apostando fortemente. Ainda sobre este assunto, Ana Carolina trouxe dados de uma pesquisa que aponta que até 2050 deveremos ter uma substituição do mercado tradicional de proteína de até 60% para algum tipo de proteína alternativa, sendo que 35% vai ficar com carne cultivada em laboratório e o restante em proteínas a base de plantas. Ou seja, é um movimento que está ganhando muita força no mundo e, segundo ela, “não tem volta”.

Soluções inovadoras, logistica e fábrica de alimentos

O boom de foodtechs nos últimos cinco anos, que chegou a alcançar investimentos na ordem de 53 bilhões de euros, aponta um foco em food delivery, consumer needs (com olhar para as necessidades do novo consumidor – serviços e aplicativos) e no agronegócio. No âmbito das tecnologias mais disruptivas estão os novos ingredientes e as proteínas alternativas.

Ana Carolina citou a Solar Foods, startup finlandesa que criou uma maneira de produzir um alimento rico em proteínas a partir de eletricidade, água e ar, através de um processo de fermentação natural e ecológico. Outro exemplo inovador está relacionado aos serviços, com tecnologias que ligam todas as pontas de um processo no negócio. É o caso das embalagens, que cada vez mais vêm sido trabalhadas com a questão do shelf life, além da otimização da contaminação de alimentos. “Quando falamos de inovação nem sempre vai ser sobre a criação de um foguete, mas sim aquilo que realmente vai trazer impacto para a vida das pessoas. E embalagem, logística e toda essa questão de novos ingredientes estão na ponta dessa lista”, lembrou.

Sobre logística, Ana Carolina acredita que o futuro está na tecnologia do blockchain para tornar tudo mais seguro, rastreável e transparente, mas lembrou que o Brasil ainda não possui cases de sucesso para figurarem a lista de empresas modelo, mas reforçou que o país está no caminho. “O fato de termos conexão com o mapa global de agro e foodtechs faz com que a gente consiga conectar soluções que ainda não existem no Brasil com as que já estão operando fora. Esse intercâmbio é muito rápido e interessante”, contou.

Quando o assunto foi fábrica de alimentos, a executiva aponta que o novo layout vai refletir a demanda do mercado, mas não enxerga grandes transformações acontecendo em um futuro muito próximo, a não ser que tenhamos uma nova crise causada por outra pandemia. “Por enquanto eu vejo que as fábricas tendem a continuar olhando para demandas altas e aquilo que engloba volume para ser atendido. É possível ainda um espaço pequeno ou até uma parceria com startups que já façam isso para atenderem algumas demandas mais nichadas”, disse.

Ao final da live, questionada sobre o futuro da alimentação, Ana Carolina foi enfática ao dizer que “é abrir a cabeça”. Ela explicou que as pessoas precisam entender que a forma como estamos hoje não vai funcionar por muito tempo. “Teremos de aprender sobre novos formatos, modelos de negócios, novos ingredientes que trarão para a mesa das pessoas alimentos mais saudáveis e sem destruir o planeta como estamos fazendo” e concluiu: “a comida como ela existe hoje talvez não vá existir nos próximos anos, então precisamos estar abertos a novas possibilidades.”

Confira o bate papo completo:

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